O pé e as palmilhas

O corpo humano possui variados mecanismos naturais, ativos e passivos, usados para atenuar impactos nos pés resultantes do choque dos pés com o chão em cada passo. Os mecanismos ativos estão presentes na mobilidade articular e ações musculares. Os passivos são a almofada gordurosa da planta do pé, a cartilagem articular, osso subcondral e ações dos ligamentos e outros tecidos moles.

A melhora das condições de absorção de choque é uma necessidade maior nas pessoas cujos mecanismos naturais estejam prejudicados por algum tipo de doença musculoesquelética, ou por alterações mecânicas.

A palmilha é considerada um tipo de órtese, e é definida como uma interface colocada no sapato de uma pessoa para reduzir ou dispersar forças com potencial patológico no pé ou outras partes do membro inferior.

O pé, base do corpo humano quando em marcha, recebe forças verticais do corpo e as dissipa de forma horizontal no pé. Para isso o pé tem uma anatomia muito especializada.

O pé necessita ser uma alavanca rígida na impulsão durante a marcha, e também tem que se acomodar às irregularidades do terreno e absorver as cargas, isso multiplicado por anos de uso, com sapatos muitas vezes totalmente inadequados. Realmente as mulheres têm muito mais queixas de problemas nos pés do que os homens.

Muitos problemas nos pés devem-se a formas anatômicas congênitas inadequadas e que obrigam a mecanismos compensatórios, e outros problemas acontecem por acomodação inadequada em calçados “de moda”, e ainda outros são causados por doenças inflamatórias destruindo articulações, ou, enfim, uma mistura dos anteriores.

As palmilhas estão indicadas em desequilíbrios estruturais ou posicionais do pé; perda da capacidade de absorção do choque; áreas sensíveis à pressão e lesões desportivas. A decisão de seu uso deve se basear na história, exame biomecânico e às necessidades individuais, de qualquer modo não corrige deformidades, só as acomoda e diminuem as queixas de dor.

Uma das funções mais lembradas de uma palmilha é a absorção de choque e a perda dessa capacidade é encontrada especialmente em pés cavos ou em pessoas mais idosas, cuja almofada gordurosa plantar vai se afinando com o avanço da idade, deixando desprotegida as articulações da base dos dedos, e concentrando pressões que causam calosidades dolorosas nessa região.

Outra função de uma palmilha é reduzir a concentração de pressão em poucas áreas, como se pode ver quando existem dedos em garra, através de uma dispersão dessa carga em maior área.

A maior procura pelas palmilhas se relaciona à sua capacidade de controlar o movimento inadequado. A parte posterior é usada para acomodar o movimento do calcâneo e a parte anterior vai suportar o ante-pé, e diminuir a necessidade de movimentos compensatórios ou anormais nas articulações intermediárias.

As propriedades do material das palmilhas dizem respeito à rigidez e dispersão de energia do material. A rigidez é a deformação que o material sofre quando uma força é aplicada, e a dispersão de energia é a capacidade de não transmitir ao corpo a força recebida. Esses parâmetros não são necessariamente correlatos, por exemplo, um material macio pode não ser absorvedor de energia (elástico), enquanto um material mais rígido pode ter maior poder de absorção de forças indesejáveis (visco-elástico).

Existem variados materiais que têm propriedades específicas. Entre os mais macios o mais comum é o “Plastazote®”, usado para revestir sapatos e palmilhas, para pacientes com neuropatia do tipo diabética, ou pés com artrite reumatóide muito avançada e pés muito destruidos. Outro material muito macio é o silicone, mas além de muito pesado, e dispersa forças de tal forma que faz seu uso ser muito cansativo e portanto desvantajoso.

Entre os materiais semi-rígidos o mais comum é o EVA (ethyl vynil acetato) um polimero de poliolefina, e muito usado em revestimento de sapatos esportivos e na confecção de palmilhas. O couro, que já foi muito usado, perde sua popularidade com advento das espumas de polietileno, mas pode ser combinado a estas.

A desvantagem do couro está em ser pesado e muito espesso, tornando o uso do sapato de número certo inviável. Alguns tipos de palmilhas, como aquelas para pés planos, são obrigatoriamente mais espessas, forçando o uso de sapatos mais confortáveis, porém alguns casos permitem espessuras bem compatíveis com sapatos comuns.

As indicações das palmilhas incluem problemas de alinhamento do calcanhar (varo ou valgo), alterações do arco medial longitudinal ( pé plano ou cavo); área sujeitas à excessos de pressão como nas metatarsalgias (dor na sola, na base dos dedos); hállux valgo (o popular joanete) ou rígido, sesamoidite; e esporão de calcâneo; outras indicações referem-se a problemas no joelhos (valgos ou varos ); deformidade que podem ter impacto sobre os pés; e as lombalgias mecanicas onde as palmilhas podem atenuar as ondas de choques mal dissipadas, e que chegando à coluna podem piorar o sintoma.

Leda Magalhães
Fisioterapeuta formada pela USP Mestre em Ciências da Saúde pela Unifesp